Os seus passos ecoavam no corredor. Se alguém o olhasse veria um garoto magro com óculos redondos e cabelo preto desgrenhado. Sua expressão era pensativa enquanto olhava para os próprios pés.
― Cara, ainda to com fome. ― comentou Rony Weasley ao seu lado.
Seu melhor amigo vivia com fome, grande surpresa.
Harry Potter permaneceu quieto olhando para os pés. Alcançaram o quadro da mulher gorda e Rony disse a senha:
― Godrico Gryffindor. ― logo o quadro girou revelando o salão comunal da Grifinória, que estava muito silencioso e abandonado. O único sinal de vida era a lareira que lançava luzes bruxuleantes no local.
Rony não disse mais nada, estava ocupado demais analisando sua varinha, que ele jurava ter algo errado.
Harry foi em direção à lareira, para sentar-se em uma das poltronas, mas parou no meio do caminho ao notar que havia alguém sentado lá. Não era qualquer pessoa, era Gina. A garota que por alguma razão mexia com o moreno.
Gina tinha seus olhos castanhos absortos em sua leitura, tão envolvidos na história que nem viu Harry e Rony entrarem. Seus olhos vagueando se um lado a outro da página, parecendo querer entrar no livro. Ela tinha seus cabelos presos em um coque desarrumado e suas mãos brancas pareciam tensas.
Harry ficou curioso em saber qual era o tipo de leitura que a ruiva lia. Queria ir até lá e sentar ao seu lado, mas não conseguia sair do transe, não saia do lugar e não conseguia desgrudar seus olhos verdes da menina. Ele quase enlouqueceu quando viu a garota morder o lábio inferior e seus lábios rosados se repuxarem em um sorrisinho lindo. Harry babava em tamanha beleza.
O garoto sentiu uma bofetada na nuca, o tirando do devaneio, e olhou rápido para seu agressor. Era Rony que pelo jeito tinha notado como Harry olhava para sua irmã caçula.
― Acorda, Harry! ― falou, erguendo uma sobrancelha.
A voz do irmão sobressaltou a garota que, atrapalhadamente, fechou o livro rapidamente e o escondeu sob uma almofada. Fitou o salão por inteiro até que seus olhos encontraram o de Harry, que agora estava muito mais curioso em saber qual o livro que ruiva lia.
Encararam-se por um instante, mas foram obrigados a parar, pois Rony os metralhava com o olhar.
Rony fingiu que nada havia acontecido, guardou sua varinha e sentou-se em outra poltrona perto da irmã. Harry fez o mesmo, agradecendo por Rony ter ignorado o seu momento de fraqueza.
― Então ― começou Rony ―, o que estava lendo, Gina? Você parecia bem interessada. ― perguntou.
Harry apurou sua atenção. Também estava curioso. A garota corou e deu um sorrisinho sem graça.
― Hm... Não é nada. Só um livro de suspense. ― tentou disfarçar ― Vou dormir. ― anunciou, levantando-se rapidamente pegando seu livro consigo. ― Boa noite, Ron. Boa noite, Harry. ― disse saindo apressadamente para o quarto das meninas.
Rony e Harry se encararam com cumplicidade.
― Estranho. ― disse Rony por fim.
― É. ― Harry disse apenas.
― Vamos dormir também, amanha agente descobre que livro era. ― falou Rony indo para o quarto.
Harry o seguiu calado.
Depois de prontos para deitarem, Harry caiu na cama e fechou sua cortina, ainda remoendo o que havia acontecido. Entorpecido demais para dormir. Sua mente vagava de Gina ao livro, do livro à Gina. Lembrou que o livro tinha capa dura e vermelha, além de páginas amareladas, perguntando-se novamente que livro era. Gina tinha olhos tão lindos, brilhando enquanto passava de uma palavra a outra. Harry daria tudo para ver aquele brilho em seus olhos novamente.
Como, percebeu, não iria dormir tão cedo, Harry apanhou a capa da invisibilidade para ir até a cozinha e comer alguma torta doce. Não tinha comido nada no jantar, pensando no próximo jogo da Grifinória contra a Sonserina, e agora sentiu fome.
Cobriu-se com a capa rapidamente e foi pé ante pé, saindo do quarto e fechando a porta atrás de si, silenciosamente. Mas para sua surpresa o salão comunal não estava vazio. Na poltrona de frente para a lareira Gina tinha seu livro novamente em mãos e estava absorta outra vez na leitura.
Harry parou surpreso por um tempo, mas foi movido pela curiosidade até atrás de Gina. Olhou as paginas amareladas do livro e, quando iria começar a ler, Gina trocou de página. Ela estava com os olhos tão grudados na página que foi até difícil de Harry distinguir as palavras. Mas em fim conseguiu e ficou perplexo.
“Renata atirou seus braços em seu pescoço e o puxou.” ― Harry começou a ler já meio desconcertado. ― “Seus lábios colidiram com um choque, que não sabiam de onde viera, mas era bom. Os lábios de Denys reagiram de imediato, com uma fome inexplicável. Suas línguas se encontraram em uma dança frenética.” ― Harry estava de boca aberta, mas continuou lendo.
“Logo os lábios de Denys ficaram mais firmes e ele puxou Renata para mais perto, tirando qualquer espaço que existia entre eles, a apertando em seu peito. O beijo cada vez se tornando mais urgente e, tão breve que nem se deu conta, Renata foi jogada na cama atrás de si e Denys começou a beijar sua clavícula. Renata não o repreendeu, queria aquilo. Oh! Hormônios descontrolados!”
Harry viu Gina morder o lábio inferior e sentiu um fogo subir em seu corpo. Corou de vergonha, pela leitura de Gina e por estar pensando em coisas não muito dignas.
Respirou fundo por um tempo e resolveu se revelar. Não por maldade, mas per estar muito curioso em saber sua explicação, o que talvez até fosse um pouco mau de sua parte, porém o fez assim mesmo.
Foi para o lado da poltrona e tirou a capa da invisibilidade. Gina deu um pulo deixando o livro cair de suas mãos com um baque. Ela corou.
― Harry! ― exclamou ― Há... Há quanto tempo está ai? ― perguntou hesitante.
― Belo livro. ― comentou, já dando margem a resposta.
Como se fosse possível, a garota ficou ainda mais vermelha adotando o tom de cor dos próprios cabelos.
― Eu... Como...? Esquece. ― se atrapalhou, apanhando o livro apressadamente e indo para seu dormitório.
― Ei, Gina. Espera. Eu não estava julgando, só achei... interessante. ― disse Harry enrubescendo com sua resposta.
― Ha... ― soltou Gina sem jeito ― Certo...
Harry engoliu em seco. Não gostava de admitir, mas as palavras do livro o deixavam estranho, com um calor intenso. Sabe-se lá o que iria acontecer se continuasse lendo aquilo.
― Qual o nome... do livro. ― hesitou.
― É... ― enrubesceu ainda mais. ― Um nome bem... amigável. ― comentou antes de responder ― Do próprio inferno.
― Nome interessante. ― comentou Harry.
― É. ― sorriu amarga. ― Só não conta pra ninguém. ― disse apressadamente ― minha mãe não iria gostar que eu estivesse lendo esse livro, sabe, ela diz que a autora é uma sádica. ― riu.
― Talvez ela tenha razão. ― riu Harry.
― Talvez.
Harry sentia-se tão estranho. Encararam-se por um tempo até Gina ir a passos lentos até Harry. Pegou sua mão e olhou no fundo de seus olhos verdes. Castanho no verde, chocolate com menta.
Gina ficou na ponta dos pés e selou os lábios de Harry lentamente. O garoto fechou os olhos, sentindo os lábios quentes e macios da ruiva nos seus. Novamente sentiu-se estranho, com o corpo quente de algo que nunca sentira.
A garota afastou-se sorridente.
― Boa noite, Harry. ― disse sorrindo e andando até o quarto, deixando um Harry desconcertado para trás.
Incapaz de mover um só músculo, o moreno caiu sentado na poltrona, mirando onde a garota desaparecera.
Tentou encontrar palavras para o que sentia. Aquela quentura e formigamento por todo o corpo tinham que ter um nome. E como um estalo logo percebeu o que era.
Desejo!
