21 de dezembro de 2010

Orbes azuis - Fanfic de Harry Potter

Ao lado do lago, em baixo de uma árvore, se encontrava uma garota com os lábios vermelhos de frio. Vestia o uniforme da Grifinória e mirava a planície da água. Por vezes ela pegava uma pedra achatada e atacava no lago, a fazendo quicar pelo menos cinco vezes.
     A garota era Lilian Luna Potter. Seus olhos eram de um castanho levemente esverdeados, que brilhavam à luz do luar, e seus cabelos eram longos e ruivos. Uma lágrima solitária desceu em sua face e ela a enxugou no mesmo instante. Não gostava de chorar, não queria ser fraca.
     Criada com seus dois irmãos homens aprendera que devia ser forte e não aceitar provocações. Se a vissem assim, Alvo e Thiago diriam que ela tinha que se controlar. Thiago sorriria largamente e faria uma piada qualquer para animá-la e Alvo a abraçaria dizendo que iria ficar tudo bem.
     Mas eles não estavam ali. Ela estava sozinha naquele gramado. Thiago já se formara no ano passado e Alvo nem a viu sair silenciosamente do salão principal, onde se realizava o jantar.
     Ela já estava em seu quarto ano em Hogwarts, era a apanhadora do time de quadribol e a aluna preferida de boa parte dos professores. Apenas a professora Parkinson, de feitiços, não ia com a cara dela ou dos irmãos. Na verdade seu problema é mesmo com os Potters em geral, já que ela estudou no mesmo ano que seu pai, na Sonserina, e, aliás, ela era uma da melhores amigas de Draco Malfoy.
     Naquele momento, tudo que Lilian queria era ficar ali sozinha, naquela paz, jogando pedrinhas no lago e esquecendo-se da professora Pansy e das provocações de Scorpio Malfoy.
     Scorpio Malfoy... Que garoto arrogante! Vivia implicando com ela e com Alvo. Inclusive era ele o motivo de seu choro.
     Quando o jantar apareceu na mesa da Grifinória Lilian ainda não estava lá, atrasada novamente por estar na biblioteca. No caminho para o salão principal Scorpio esbarra com ela e começa a rir maldosamente.
     “Uma mistura patética de Wesley e Potter!” Ele gostava de dizer, referindo-se a ela e seus irmãos.
     Como sempre ela reprimiu suas lágrimas e entrou no salão, tentando ignorar Malfoy. Viu Hugo, seu primo, sentado a mesa conversando com Demetra e Rick, foi indo até lá e no cominho Malfoy colocou o seu pé na frente e ela caiu. Já quase explodindo de segurar suas lágrimas, Lili levantou-se alisou sua roupa e continuou seguindo sem olhar Scorpio. Sentou-se ao lado de Hugo, mas ele estava entretido demais falando com Rick sobre carros trouxas e Demetra estava tão distraída olhando para seu bolo de carne que nem me notou, tão pouco.
     Lilian deu uma olhada para Scorpio, do outro lado do lugar. Ele olhava para ela com um sorriso esnobe no rosto.
     Babaca. murmurou Lili, tão baxinho que ninguém ouviu, mas Scorpio leu seus lábios e levantou uma sobrancelha, seus olhos mostravam-se vitoriosos e brincalhões.
     Olha quem fala. Lili o viu murmurar do mesmo jeito.
     Lilian revirou seus olhos e, sem comer nada, se retirou. Nem Hugo, nem Alvo, pareceram notar nada de estranho.
     E agora era ali que se encontrava. Achava-se boba, estúpida, de estar ali derramando lágrima por causa de algo tão... irrelevante? Não, talvez essa não fosse a palavra. Pequeno talvez, mas não irrelevante. Embora Lilian não fizesse idéia de qual era o nível da relevância.
     O fato é que Lilian estava, digamos, apaixonada por Scorpio. Não conseguia explicar. Simplesmente sentiu algo diferente em relação a ele. Isso começou quando estava na biblioteca certa noite.
     Lilian ficara na ponta dos pés para apanhar um livro sobre quadribol, mas não conseguia alcançar direito. Com as pontas dos dedos tentara puxá-lo para fora da estante, o que começou a funcionar, mas quando finalmente conseguiu tirá-lo da prateleira ele escapou de seus dedos e caiu em sua cabeça.
     Ai! gemeu de dor.
     Suas mãos foram imediatamente até a cabeça para massagear o galo que estava prestes a se formar. Olhou para o lado e se surpreendeu ao ver Scorpio Malfoy lhe entregando o livro que caíra no chão.
     Obrigada. agradeceu confusa. Por um momento ela pensou que a pancada que levou na cabeça a estivesse fazendo delirar.
     Pelo quê? Eu só vim rir da situação. ele riu desdenhoso.
     ― Claro que veio. ― bufou ela em resposta arrancando o livro de sua mão.
     Mas ela achou sua resposta sem fundo de verdade, afinal, se ele tivesse ido lá apenas para rir dela, então por que pegou o livro do chão para entregar-lhe?
     Foi dês desse dia que ela começou a notar Scorpio de um jeito diferente. Notara o quanto seu cabelo cor de areia, que lhe caia nos olhos, era bonito. Como seu sorriso rude era charmoso e como sua risada ressoava como música em seus ouvidos. Sem falar naqueles orbes azuis.
     Apanhou outra pedra na beira no lago e a fez pular várias vezes na água. Deu um suspiro irritado e triste, enquanto olhava a lua gargalhar de sua situação. Imaginou o que Alvo diria se lhe contasse que estava apaixonada pelo seu pior inimigo, ou o que Tiago. Pior, o que seu pai diria. Já sabia exatamente como seria a reação de seu tio Rony, que provavelmente cairia duro de costas. Lilian riu imaginando, sempre achara as insinuações de Rony para com os Malfoy muito engraçadas. Mas logo seu sorriso se apagou novamente.
     Estava ficando louca? Será que o loirinho colocou poção do amor em seu suco de abóbora só para rir mais ainda dela? Não duvidaria. Poderia até estar apaixonada por ele, mas conhecia a peça. Scorpio era irritante e desdenhoso. Mas ainda não entendia por que, se ele era assim tão desdenhoso, ele a tinha ajudado na biblioteca?
     Aquilo acabava com ela.
     Hugo, que era a única pessoa que ela contara sobre sua quedinha, disse que Lilian devia estar delirando. Disse que, provavelmente, ela estivesse imaginando coisas. “A pancada devia ter sido bem forte!” ― foi o que concluiu.
     Será que seu primo estava certo? Ela estava mesmo delirando?
     Jogou mais uma pedra achatada para vê-la pulular sobre a planície do lago.
     ― Fazendo o que aqui fora, Potter? ― Disse a voz que ela menos esperava. O tom era ofensivo e desdenhoso.
     Seu coração pulou pelas paredes e saltou-lhe pela garganta. Aquela voz ressoante era a música para seus ouvidos e, claro, se não tivesse o tom ofensivo ela seria aveludado.
     Lilian girou sobre os tornozelos e viu os olhos azuis de Scorpio brilhar na luz da lua. Soltou a respiração que nem notara estar segurando e deu graças por não estar mais com nenhuma lágrima descendo por sua face.
     ― Que te interessa, Malfoy? ― retruquei com minha língua afiada.
     ― já está tarde, pode levar uma detenção por isso. ― ele riu e notei que aquilo era uma ameaça, e não um comentário.
     ― Como se você também não estivesse aqui. ― levantei uma sobrancelha desafiadora.
     Ignorando sua presença, ou pelo menos tentando, Lilian voltou a fazer as pedras pularem no lago. Notou que Malfoy não tinha se movido e o olhou pelo canto do olho. Ele tinha seus olhos no lago, onde ela tacara a pedra, sua boca estava levemente entreaberta, talvez de surpresa. Lili sorriu com sua expressão, estava claro que ele não conseguia fazer uma pedra quicar tanto.
     ― Por que está aqui? ― perguntou Lilian indiferente.
     ― Vim aqui para ficar sozinho, mas infelizmente dei de cara com alguém que não queria ver. ― Bufou.
     ― Então volta pra castelo. ― a garota deu de ombros.
     ― Você não manda em mim. ― desafiou.
     ― Tanto faz, Malfoy, apenas me deixe em paz. ― Bufou já meio irritada.
     Não era normal Scorpio ficar sozinho com ela quando tinha opção.
     ― Estou te irritando? ― perguntou desdenhoso.
     ― Está. ― disse curta e grossa. Ela ainda mirava o lago, cruzou os braços e franziu o cenho.
     ― Agora é que não saio daqui mesmo. ― ele riu ressonante enquanto sentava no chão, embaixo da árvore.
     ― Ótimo. Então eu saio. ― Ela disse jogando uma última pedra com força, que quicou seis vezes antes de afundar.
     ― Como faz isso?! ― ele perguntou subitamente. Talvez até sem pensar.
     ― O quê? ― Pediu Lili, não por não ter escutado a pergunta, mas por querer ouvir novamente, afinal, era uma pergunta curta e sem nenhuma ofensa.
     ― Nada. ― disse ele emburrado.
     É, ele perguntou sem pensar. ― meditou Lilian.
     ― É fácil. ― disse como se o ‘nada’ dele tivesse sido a repetição da pergunta anterior. ― Precisa pegar uma pedra achatada. ― ela se abaixou e pegou uma ― e depois é só jogar rente a superfície. ― Lilian demonstrou e a pedra quicou cinco vezes dessa vez.
     ― Hm. ― foi o que ele conseguiu dizer, com o cenho franzido.
     Ela sabia que Malfoy estava diferente. Parecia medir bem as palavras antes de dizê-las. Lilian o imaginou tentando enfiar ofensas mentalmente no que iria dizer antes de dizer, talvez para que ela não notasse que ele havia mudado. Lili fez que não com a cabeça inconscientemente, dizendo para si mesma que devia cair na real.
     ― O que foi? ― perguntou Malfoy automaticamente, que logo tratou de tentar parecer mais hostil com sua pergunta ― Tentando negar sua incompetência, Potter? ― bufou, referindo-se ao gesto que ela fez com a cabeça.
     Com isso ela notou que ele a estava observando demais.
     ― Idiota. ― ela olhou pra ele para revirar os olhos. Scorpio desviou o olhar.
     Ela bufou. Incompetente... Ele realmente não estava conseguindo ofensas melhores que essa?
     ― Você está perdendo o jeito de escolher ofensas, Malfoy. ― concluiu para ele.
     Scorpio não disse nada, nem a olhava, pois ela ainda o fitava, e Lilian percebeu que ele evitava seu olhar.
     ― O que há com você, Scorpio? ― perguntou ela, não contendo um pequeno sorriso por ele não ter replicado seu comentário anterior.
     Lilian o viu refletir olhando para as águas escuras. Ele suspirou e enfim levantou a cabeça para olhá-la.
     ― Nada. ― disse com o cenho franzido em duvida. Com certeza ‘nada’ era a única coisa que não definia o que lhe acontecia.
     ― Vou fingir que acredito. ― Lilian disse sorrindo. Não conseguia reprimir esse maldito sorriso... Estava tão feliz de terem passado pelo menos um minuto sem respostas maldosas.
     Dessa vez ele não desviou o olhar. Seus orbes azuis brilhavam de um jeito incomum. Lilian estava quase chamando a enfermeira para ver se Scorpio estava doente.
     Malfoy puxou o ar para seus pulmões profundamente, como se tentasse ganhar coragem. E com esse pensamente o coração de Lilian martelava em suas costelas.
     ― Tem razão, Potter. Não consigo mais arranjar ofensas para te atingir. ― ele fechou os olhos, envergonhado. ― Eu... ― Scorpio colocou as mão em seu rosto, não conseguindo completar o que queria dizer.
     ― Você...? ― encorajou Lilian, que agora tinha um sorriso irreprimível em seus lábios.
     Ele olhou para ela novamente e franziu o cenho.
     ― Pare de sorrir assim! ― disse de repente ― Isso me desconcentra. ― fechou os olhos.
     O que Malfoy queria dizer que precisasse de concentração? ― se perguntou Lilian que só se fez dobrar o sorriso, mas ela mordeu o lábio inferior, tentando reprimi-lo.
     Ele voltou a olhar para ela e revirou os olhos quando viu que ela estava conseguindo pouco sucesso em se conter. Scorpio olhou para baixo e deixou escapar um pequeno sorriso no canto dos lábios, bufando para si mesmo.
     ― Ainda está sorrindo. ― a lembrou.
     ― Desculpe. ― ela disse risonha.
     Olhou para o alto e respirou algumas vezes tentando fazer uma cara séria.
     ― Pronto. ― disse ela ao olhá-lo novamente, com o sorriso escondido pela ‘mascara’ de seriedade que colocara.
     Ele a olhou com uma sobrancelha erguida e foi ele quem não conteve o sorriso. Voltou a olhar para baixo.
     ― Ainda me desconcentra. ― murmurou para si mesmo, mas Lilian conseguiu ouvir.
     ― Fale de uma vez. ― riu ela, voltando a sorrir.
     Respirando várias vezes ele tentava ganhar coragem para o que Lilian imaginava ser o que ele diria. Ela o viu morder o lábio inferior brevemente antes de olhá-la mais uma vez. Achou aquilo tão atraente!
     ― Gosto de você. ― murmurou baixo sem mais demora, engolindo seu orgulho. O que seu pai, Draco, diria se ouvisse ele dizer isso a uma Potter?
     ― O que disse? ― Lilian sorriu mais, provocando.
     ― Gosto de você! ― gritou dessa vez.
     Hora de brincar um pouco. ― pensou Lilian, tentando se aproveitar da situação.
     ― Hm... ― disse provocando ― Quer dizer que você, um Malfoy, gosta de mim, uma Potter? ― riu perversa com desdenho exagerado. Scorpio olhava para baixo agora, realmente acreditando no descaso de Lilian. ― Sabe? ― sorriu ela e foi sentar-se ao seu lado ― Acho que eu to gostando disso.
     Os orbes azuis se encontraram com os orbes esverdeados e Scorpio voltou a sorrir quando viu o enorme sorriso de Lilian tão perto.
     ― O que isso quer dizer? ― perguntou Malfoy.
     ― Cala a boca e me beija. ― bufou Lilian puxando Scorpio pela nuca e selando seus lábios.
     O beijo se intensificou e suas línguas dançaram em um mesmo ritmo. A respiração de Malfoy saia em suspiros, como a da Potter. Scorpio tratou de puxá-la pela cintura e envolvê-la em seus braços fortes de batedor.
     Lilian quase não acreditava no que estava acontecendo. Só podia ser um sonho, e, se fosse, não queria acordar. Só esperava que seus irmãos não empatassem o romance deles.

7 de dezembro de 2010

Inimigo invisível - Baseado em fatos reais


Alexa contava as horas para o sol nascer, enrolada em seus cobertores, encolhida no meio da cama de casal, a fazendo ficar menor do que era. Mesmo aos 16 anos ainda tinha medo de escuro e problemas para dormir, por que tinha medo de sonhar. Pesadelos conturbavam suas noites.
     Havia realizado o seu ‘ritual’ antes de deitar-se. Ligara a luz do banheiro, fechara todas as portas de armários, todas as gavetas e as janelas e portas do quarto. Apagara a luz, ligara o ar-condicionado e se embrulhara nas mantas. E então rezara. Coisas ruins aconteceriam se não rezasse.
     Dormiu não contendo o sono dominante. E novamente aconteceu.
     Sonhara que estava em um cemitério e andava entre os túmulos. Parou repentinamente em frente a um deles. Na lápide havia apenas um nome, sem quaisquer datas. Camila, dizia. Intrigada com a falta de informações andou em cima do túmulo e se aproximou da lápide. Mas não havia nada além do nome. Sentiu o chão estremecer e olhou para a grama que escondia abaixo de si o caixão de Camila. Levou um susto quando uma mão surgiu da terra e agarrou seu pé. Alexa se livrou do aperto da defunta e correu até encontrar um carro. Não viu quem era o motorista, apenas pediu que ele passasse por cima do cadáver de Camila. E o sonho acabou.
      Acordou assustada e chorando; eram três e meia da madrugada. Desde que abriu os olhos ficara acordada, temia dormir novamente. Foi o sonho mais real que já tivera.

Lilian acordou sufocando. Sentia seu corpo sendo empurrado para baixo na cama, tirando seu ar. Queria gritar, mas não conseguia, sua voz não saia. O intrigante era que ninguém estava sobre ela, ninguém a estava fazendo ser engolida pelo colchão. Era como uma força invisível.
     Desesperada, sem voz e quase sem ar, Lilian tentava forçar seu corpo a não ser enterrado na cama, tentando se livrar da pressão. O grito esgoelado e sem som lhe tirava todo o resto de ar dos pulmões. Ninguém estava lá. Ninguém podia ajudá-la. Lilian estava sozinha no escuro perturbador sendo esmagada por ninguém.
     E então o peso sumiu e ela tomou uma boa golada de ar, fazendo um barulho estranho no quarto antes silencioso. Seu corpo chegou a dar um pequeno salto quando a força invisível desapareceu, sem deixar quaisquer vestígios.
     Os olhos arregalados e a respiração difícil, Lilian finalmente acreditava em espíritos e demônios. Finalmente acreditava no que Alexa lhe contava.

Lilian acordou com o grito aterrorizado de sua irmã no quarto ao lado. Era um grito de desespero. Correu para acudir sua irmã. Quando chegou ao quarto viu Alexa tateando por seu pescoço em busca de arrancar algo. Ela sufocava.
     Sua mãe apareceu pouco depois e ligou a luz. Com a luz acesa Alexa fez um barulho estrangulado ao tomar fôlego. Livrando-se do aperto de seu pescoço.
     ― Alguém tentou me enforcar! ― falou com esforço.
     Olharam para todos os lados, mas não havia ninguém. Apenas Lilian tinha visto que nada visível tinha apertado o pescoço de Alexa. Só ela sabia que fora a mesma força invisível que tentara lhe afundar na cama.
     Seu pai e sua mãe achavam que alguém tinha, de alguma forma, entrado na casa e tentado matar sua filha, mas Alexa e Lilian sabiam da verdade.

Alexa fora dormir com Lilian. As duas estavam temerosas com a confirmação de seus medos. Lilian era a mais velha por um ano e meio e tentava consolar sua irmã.
     Alexa sempre disse a Lilian o que ela via. Sempre contara sobre os espíritos, mas Lilian teve que sofrer na pele para acreditar.
     Eram duas da manhã quando finalmente pegaram no sono. E os pesadelos de Alexa voltaram a toda.
     Estava em um escritório bem arrumado e elegante. Atrás da mesa de mogno havia uma figura esguia e perturbadora.
     ― Quem é você? ― perguntou Alexa.
     O homem deu um sorrisinho fantasmagórico e lhe respondeu:
      ― Manuel.
      Alexa não entendia o quê Manuel queria com ela, mas não estava a fim de descobrir. Começou a lentamente andar para trás a passos contados. Mas o homem esguio lhe apareceu mais a frente ― perto, muito perto.
     ― Não tenha medo Alexa Double. ― disse.
     ― Como sabe meu nome?
     ― Preciso de você.
     Ela ficou parada olhando fixamente os olhos profundos de Manuel, havia sinceridade.
     ― Princesa Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina, Catarina... ― começou a repetir constantemente.
     E Alexa acordou. Mas o nome ainda ressoava em sua mente, como um disco furado. Ao seu lado Lilian dormia. Chacoalhou-a para que acordasse.
     Lilian acordou na mesma hora e perguntou assustada:
     ― O que houve?
     ― Um pesadelo, muito real. ― disse apenas.
     O nome continuava conturbando sua mente.
     Catarina. Princesa Catarina.
     Alexa levantou de súbito e ligou o computador. Lilian a seguiu, confusa.
     ― O que vai fazer? São quatro horas agora. ― falou, olhando temerosa para todos os lados.
     ― Pesquisar um nome.
     Alexa abriu a ferramenta de busca e digitou: Princesa Catarina e Manuel.
     E lá estava. Princesa Catarina motou por envenenamento Manuel, seu amante.
     Arregalou os olhos de terror. Olhou para Lilian e disse:
     ― Aqui está nosso fantasma.
     Lilian perdeu o fôlego e sentou-se na cama, atordoada.
     ― O que ele quer? ― perguntou.
     ― Companhia. ― Respondeu Alexa, com uma voz mertalizada e sombria que não era dela.
     Alexa colocou a mão sobre a boca, não acreditando no que tinha acabado de falar. As duas estavam perplexas.
    E de repente Alexa levou um golpe invisível no estomago e perdeu o ar. Apavorada, Lilian socou o ar para todos os lados na ínfima esperança de acertar o agressor. Tudo em vão. Em poucos segundos as mãos invisíveis apertavam-lhe a garganta trancando a passagem de ar. Alexa, que estava caída ao chão com as mãos envoltas no estômago, levantou-se cambaleante, sem saber como ajudar sua irmã, que tateava pelo pescoço procurando ar. Mas como atingir algo que não pode se ver ou tocar?
     Em pânico Alexa gritou ― o grito mais agudo e penetrante que já se ouvira. Sua voz foi abafada por mãos invisíveis que agora soltaram-se de Lilian.
     Lilian lembrou-se da noite passada, quando quem sofria o aperto do fantasma no pescoço era Alexa, e em sua mente se passou a imagem da mãe acendendo a luz e tudo voltando ao normal. Lilian correu até o interruptor, aproveitando que o espírito estava distraído com sua irmã e ligou a luz.
     O quarto se banhou com a claridade. Alexa olhava perplexa para a irmã, não podendo crer que tivesse funcionado.
     ― Então o Miguel tem medo de luz? ― disse Alexa de boca aberta.
     E tudo se encheu com um silêncio agudo e anormal.
     Lilian foi abraçar a Alexa, com todo o carinho de irmã que tinha para oferecer.
     ― Ele vai voltar. ― concluiu Alexa, deixando o tom sombrio de sua voz planar sobre elas.
     Sim, ele iria voltar. De novo, de novo e de novo. Lilian tinha a absoluta certeza disso e sabia que um dia ele conseguiria o que quer. Apenas torcia que isso demorasse a acontecer.

26 de novembro de 2010

Uma Questão de Sensatez - Fanficion


     Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. ― Eu contava enquanto fazia meus passos de balé na sala revestida de espelhos da mansão Cullen. Passava a maior parte do meu tempo nesse lugar; dançando e rodopiando.
     Geralmente Jake me assistia e aplaudia, mas hoje ele estava com a matilha. Era chato sem ele. Eu tentava não pensar nisso, fazendo passos sistematizados e simétricos.
     Um, dois, três, quatro. Um, dois, três... ― minha contagem foi interrompida quando a porta da sala foi aberta.
     Esperançosamente esperei que fosse Jacob. O meu Jake. Dei um largo sorriso só de pensar em sua pele morena, seus olhos profundos e seu sorriso desmedido. Porém dei um pesado suspiro frustrado ao constatar que não era ele e sim meu pai, então votei a dançar e contar.
     Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro.
     ― Ele já vem, Renesmee. ― meu pai tentou me tranquilizar.
     Mas dizendo isso, só me fez pensar mais nele e no fato de ele não estar ali ao meu lado, aquecendo meu coração a cada sorriso, zombando da minha obsessão pelo balé e me fazendo rir quando ele tentava imitar meus passos erroneamente.
     ― Não está ajudando. ― adverti. Mas ele já sabia disso.
     ― Desculpe.
     Um, dois, três, quatro.
     ― Sua mãe pediu que eu viesse aqui para dizer que o café está na mesa.
     Um, dois, três...
     ― São duas da tarde, pai. ― lembrei-o dando alguns pliês.
     ― Mas você ainda não tomou café e nem almoçou. E não vamos esquecer que você acordou uma hora da tarde hoje. Tecnicamente vai ser o seu café da manhã.
     Um, dois...
     ― Eu estava a fim de caçar hoje. ― declarei distraidamente, já esperando a recusa.
     ― Você já caçou ontem, querida.
     ― E? ― eu desafiei enquanto rodopiava.
     ― Não vai hoje. ― concluiu.
     ― Por quê? ― choraminguei, rodando em torno dele.
     Ele riu.
     ― Teimosa. Vai comer. Sua mãe me mata se eu te deixar ir caçar novamente. ― ele disse.
     ― Edward Cullen, você é o homem da família, imponha respeito. ― brinquei. Mas eu sabia que meu pai fazia tudo que minha mãe queria.
     ― Comer, mocinha. ― ele mandou.
     Suspirei profundamente outra vez e desci das pontas dos meus pés.
     ― Tudo bem, tudo bem. ― me rendi revirando meus olhos para ele e saindo do estúdio particular que vovó Esme fez para mim.
     Desci as escadas saltitando e dando bom dia aos meus familiares. Senti o inconfundível cheiro de ovos e bacon. Jake amava ovos e bacon. Chegando à cozinha minha mãe tinha feito uma pratada deles.
     ― Sabe quem iria gostar disso? ― perguntei triste para minha mãe enquanto sentava-me à mesa.
     ― Deixa-me adivinhar. ― ela fez cara de pensadora. ― Um cara, que pode virar um lobo, com o nome que começa com “Jay” e termina com “cob”?
     ― Esse mesmo. ― suspirei. ― Já faz três horas que ele saiu, eu nem tava acordada. ― choraminguei.
     ― Calma, filha, ele já vem. ― minha mãe riu.
     ― Calma nada, vou atrás dele. ― disse levantando. ― Já está demorando demais.
     ― Não, não. ― ela negou. ― Primeiro você vai comer.
     Relutantemente finquei o garfo em um ovo e enfiei na boca antes de sair correndo para fora de casa sem querer ouvir os protestos de minha querida mãe.
     É claro que se ela resolvesse ir atrás de mim ela já teria me alcançado, mas por sorte não o fez.
     A toda a velocidade eu fui encurtando a distancia entre eu e meu recente namorado Jacob Black. Entrei na fronteira Quileute e driblei as árvores, indo em direção a casa de Emily Uley.
Encontrei a casa pitoresca e entrei sem bater, como eu faço na maioria das vezes. Encontrei o meu Jake sentado na mesa, emburrado. Porém quando me viu abriu meu sorriso predileto.
     ― Eu falei que ela vinha antes das três horas! ― disse Embry ao Paul. ― Passa a grana. Vinte dólares.
     ― Droga! Eu tava na esperança de o Edward segurar ela mais um pouco lá na mansão. ― praguejou Paul.
     Embry ria abertamente.
     ― Tem algo que queira me contar Jacob Black? ― eu disse severa.
     ― Tem. ― ele disse vindo para o meu lado me abraçar. ― Eu fui feito de refém aqui. Paul e Embry apostaram a hora que você iria vir me buscar. Não consegui sair, Nessie. Perdoa-me? ― ele fez a carinha de cachorrinho que caiu da mudança que me faz derreter.
     ― Tudo bem. ― me rendi. ― Mas vocês dois vão ter o troco. ― eu disse olhando os apostadores risonhos.
     ― Eu disse que era contra. ― Emily disse. ― Só pra constar.
     Revirei meus olhos e puxei Jake para fora. Assim que ficamos a sós ele me encheu de beijos.
     ― Senti sua falta. ― ele disse.
     ― Eu senti mais. ― fiz beicinho e depois sorri no meio de um beijo repentino.
     Jake me soltou e depois sorriu.
     ― Sabe que dia é hoje? ― ele parecia nostálgico! Como uma criança embaixo de uma arvore de natal. Estava tão feliz que eu podia jurar que estava a ponto de sair saltitando.
     ― Não, que dia é? ― perguntei confusa, e extremamente curiosa.
     Não me lembrava de nenhuma data em especial.
     ― Dia 30 de novembro. ― ele abriu um grande sorriso reluzente, eufórico.
     ― E...? ― pedi confusa.
     ― Como assim ‘e...’? ― ele disse parecendo muito chateado, como se tivesse levado um tapa na cara.
     ― Desculpe amor, não consigo pensar em nada. Fala, que dia é hoje?
     ― Esquece. ― ele abaixou a cabeça e começou a andar, me deixando lá, parada e confusa.
     Não sabia o que fazer, estava ficando desesperada. Olhar nos olhos escuros de Jacob e encontrar tanta tristeza não era comum. Por que hoje era um dia importante para ele?
     ― Por favor, Jake, me conta. ― eu implorei projetando o meu lábio inferior para baixo, tirando todas as suas defesas. Era assim que eu conseguia que ele fizesse tudo por mim.
     ― Sabe, isso é um golpe muito baixo. ― ele franziu o cenho e mordeu seu lábio inferior tentando se segurar. ― Não vou dizer. ― ele falou, fechando os olhos para que não visse meu rosto pidão.
     Cheguei bem perto dele e soprei em seu ouvido, o fazendo estremecer. Adorava isso. Envolvi meus braços em sua cintura e comecei a beijar seu pescoço e ele gemeu, bem como eu previa.
     ― Nessie... Não faz isso... Você sabe que isso... Não se faz! ― Ele tentava dizer entre engasgos, mas não tentou me afastar. Eu sabia como o deixar louco.
     ― Vai me contar? ― sussurrei em seu ouvido o sentindo estremecer novamente.
     O abracei e comecei a traçar sua coluna com meus dedos delicados, ocasionalmente usando minhas unhas também. Nossa! Como eu o estava deixando louco.
     Jake cerrou os punhos tentando pateticamente controlar seus sentimentos fluidos.
     ― N... Nessie. ― gaguejou.
     ― Não vai falar? ― provoquei.
     ― Com uma condição. ― ele falou com a voz estremecida.
     ― Condição? Que condição? ― indaguei enquanto me afastava para olhar em seus olhos.
     ― Vai fazer tudo que eu mandar você fazer hoje. ― ele sorriu maroto.
     ― Ah! Já sei que dia é hoje. ― falei repentinamente sorrindo.
     Jacob me olhou confuso e desconfiado.
     ― Sabe?
     ― Sim, hoje é o dia do ‘primeiro de abril fora de época’! ― eu ri de minha piada sem graça. ― Só pode pra você fazer uma condição dessas.
     Ele riu.
     ― Não. ― ele sorriu torto.
     ― Seu aniversário? ― perguntei.
     ― Não. ― ele riu e depois de um tempinho franziu o cenho. ― Espera aí, não sabe o dia do meu aniversário?
     ― Pff! ― bufei tentando disfarçar ― É claro que eu sei! ― desviei meu olhar para o topo das arvores.
     ― Parece que não sabe. ― ele riu.
     ― Sei sim! ― eu disse em um tom de falsa ofensa.
     ― Ah, é? Então responde: Qual o dia do meu aniversário? ― ele levantou uma de suas sobrancelhas sedutoramente.
     ― Hm... ― hesitei. ― é... dia... Ah, eu não preciso te provar nada. ― murmurei em tom ofendido.
     ― Sabia que você mente MUITO mal, parece até que puxou sua mãe. ― ele gargalhou.
     De repente acendeu uma luz na minha cabeça:
     ― Seu aniversário é dia 24 de Janeiro. ― falei levemente me lembrando.
     ― Não, é dia 14 de Janeiro. ― ele sorriu torto.
     ― Cheguei perto. ― eu sorri inocente.
     ― Teve sorte. ― ele acusou. ― Mas ainda não sabe que dia é hoje.
     Bufei frustrada.
     ― Está certo, eu aceito sua condição. ― cruzei meus braços, irritada.
     ― Já disse que você fica linda bravinha? ― ele riu e deu um beijo na minha bochecha me puxando em direção a mansão.

O dia foi longo. Eu tive que fazer lanchinhos para o Jacob, levar refrigerante para o Jacob, massagear as costas de Jacob, paparicar o Jacob e idolatrar o Jacob. Minha família também estava se divertindo vendo meu sofrimento, meu pai principalmente ― leitor de mentes traidor.
     ― Eu ouvi isso, Nessie. ― advertiu meu pai do outro lado da sala de televisão.
     ― Desculpe, pai. ― bufei.
     ― Boa garota. ― ele falou como se parabenizando os feitos de um cão; riu de sua piadinha, assim como toda a família, incluindo Jacob que estava sentado do meu lado com um sorrisinho relaxado no rosto e só dizendo:
     ― Troca, troca, troca... ― enquanto eu tinha que mudar de canal para ele, porque ele estava com preguiça de apertar os botões do controle remoto.
     ― Dia da árvore? ― tentei novamente descobrir que dia era.
     ― Não. ― Falhando tristemente.
     O dia inteiro eu tinha jogado minhas suposições, mas não era nenhuma delas! Isso me frustrava! Que dia era afinal?
     Meu pai gargalhou alto enquanto passava por mim indo para a cozinha.
“depois não gosta que eu o chame de leitor de mentes traidor.” ― bufei mentalmente, mas ele não respondeu.
     ― Dia de St. Patrick? ― tentei.
     ― Também não. ― ele sorriu bobo ― Troca.
     Suspirei profundamente mudando de canal pela centésima vez.
     ― Natal?
     Jake franziu o cenho e me olhou como quem diz: “O quê? Claro que não!”
     ― O que foi? ― dei de ombros, tentando me defender. ― Acabaram as alternativas coerentes.
     Ele riu e pegou minha mão.
     ― Bem, como você não sabe mesmo que dia é hoje, eu vou te contar.
     ― Te mataria se não me contasse. ― ameacei.
     Ele riu e me puxou para fora da casa.
     ― Vamos a um lugar mais privado.
     ― Ela vai arrancar sua cabeça, Jacob, é melhor falarem em um lugar que haja testemunhas. ― riu Alice.
     Jacob pensou um pouco e declarou:
     ― Acho que posso lidar com isso. Além do mais, você não pode ver o meu futuro e o da Nessie. ― ele a lembrou.
     ― Você quem sabe. ― tia Alice deu de ombros. ― Apenas conheço bem as mulheres.
Aquilo estava me deixando curiosa. Que maldito dia era, afinal?
     Jake me pegou em seus braços e correu para uma clareira na floresta. Então me colocou de pé no chão e sentou. Eu o imitei, com uma sobrancelha levantada de dúvida.
     ― Então, quer mesmo saber que dia é hoje? ― ele riu.
     ― Óbvio. ― bufei.
     ― Promete não se zangar? ― ele pediu, a cabeça meio de lado, como um cachorrinho pidão.
     ― Diga de uma vez! ― mandei.
     ― Você não prometeu. ― bufou.
     ― Okay, okay. Eu prometo.
     Ele suspirou e finalmente revelou.
     ― Hoje é o dia: Vingando-se de Renesmee. ― ele sorriu maroto.
     ― O que? ― pedi, não devia ter ouvido direito.
     ― Vingando-se de Renesmee. ― repetiu.
     ― Hoje mais cedo, com Paul e Embry, foi parte de seu plano?
     ― Talvez.
     ― Tia Alice tinha razão ― falei calma e mortal, o sangue juntando em meu rosto com a irritação. ―, vou arrancar sua cabeça.
     ― Calma aí, amor. ― ele levantou as mãos se defendendo. ― Não antes de eu explicar.
     ― Tem cinco minutos. Nada mais. ― ameacei.
     ― Certo. Hm... Digamos que toda vez eu acabo fazendo tudo que você quer: é só você me olhar com aquela carinha e eu desmorono. Então decidi que hoje você iria pagar por ser tão adorável. ― ele deu um sorriso enorme.
     ― Ainda tem quatro minutos e meio. ― falei, mortal.
     ― Oh! Certo, ainda não te convenci. Então eu vou te dizer outra verdade. Hoje não é só o dia de me vingar de você, mas é também o dia em que eu olhei nos seus olhos e me encantei pela milionésima vez essa semana.
     Continuei encarando ele, com a expressão intacta.
     ―Você prometeu não se zangar. ― lembrou-me ele.
     Ainda fiquei encarando.
     ― Já disse que eu te amo? ― ele tentou.
     Revirei meus olhos e não aguentei: tive que deixar escapar um sorrisinho em meus lábios.
     ― Cachorro mau. ― brinquei.
     Ele abriu um sorriso ainda maior que o de antes, não me dando outra alternativa a não ser sorrir com ele. Ele me deu um beijo repentino, de tirar o fôlego.
     ― Você ainda me paga. ― falei no meio do beijo.
     ― Quero ver você tentar. ― ameaçou sedutoramente.
     ― Me aguarde. ― sorri.
     ― Eu já disse que tenho medo de você? ― Jake me olhou nos olhos com a inocência de um cão.
     ― Ainda bem que você é sensato. ― eu ri e o puxei para outro beijo, já planejando como eu me vingaria de sua vingança. ― Estou pensando em passear com você amanhã. ― disse pensadoramente.
     ― Que ótimo, aonde vamos?
     ― Não sei ainda, mas eu vou precisar ir a um pet shop comprar uma coleira extragrande. ― sorri maliciosa.

@ErikaFerronatto

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