26 de novembro de 2010

Uma Questão de Sensatez - Fanficion


     Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. ― Eu contava enquanto fazia meus passos de balé na sala revestida de espelhos da mansão Cullen. Passava a maior parte do meu tempo nesse lugar; dançando e rodopiando.
     Geralmente Jake me assistia e aplaudia, mas hoje ele estava com a matilha. Era chato sem ele. Eu tentava não pensar nisso, fazendo passos sistematizados e simétricos.
     Um, dois, três, quatro. Um, dois, três... ― minha contagem foi interrompida quando a porta da sala foi aberta.
     Esperançosamente esperei que fosse Jacob. O meu Jake. Dei um largo sorriso só de pensar em sua pele morena, seus olhos profundos e seu sorriso desmedido. Porém dei um pesado suspiro frustrado ao constatar que não era ele e sim meu pai, então votei a dançar e contar.
     Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro.
     ― Ele já vem, Renesmee. ― meu pai tentou me tranquilizar.
     Mas dizendo isso, só me fez pensar mais nele e no fato de ele não estar ali ao meu lado, aquecendo meu coração a cada sorriso, zombando da minha obsessão pelo balé e me fazendo rir quando ele tentava imitar meus passos erroneamente.
     ― Não está ajudando. ― adverti. Mas ele já sabia disso.
     ― Desculpe.
     Um, dois, três, quatro.
     ― Sua mãe pediu que eu viesse aqui para dizer que o café está na mesa.
     Um, dois, três...
     ― São duas da tarde, pai. ― lembrei-o dando alguns pliês.
     ― Mas você ainda não tomou café e nem almoçou. E não vamos esquecer que você acordou uma hora da tarde hoje. Tecnicamente vai ser o seu café da manhã.
     Um, dois...
     ― Eu estava a fim de caçar hoje. ― declarei distraidamente, já esperando a recusa.
     ― Você já caçou ontem, querida.
     ― E? ― eu desafiei enquanto rodopiava.
     ― Não vai hoje. ― concluiu.
     ― Por quê? ― choraminguei, rodando em torno dele.
     Ele riu.
     ― Teimosa. Vai comer. Sua mãe me mata se eu te deixar ir caçar novamente. ― ele disse.
     ― Edward Cullen, você é o homem da família, imponha respeito. ― brinquei. Mas eu sabia que meu pai fazia tudo que minha mãe queria.
     ― Comer, mocinha. ― ele mandou.
     Suspirei profundamente outra vez e desci das pontas dos meus pés.
     ― Tudo bem, tudo bem. ― me rendi revirando meus olhos para ele e saindo do estúdio particular que vovó Esme fez para mim.
     Desci as escadas saltitando e dando bom dia aos meus familiares. Senti o inconfundível cheiro de ovos e bacon. Jake amava ovos e bacon. Chegando à cozinha minha mãe tinha feito uma pratada deles.
     ― Sabe quem iria gostar disso? ― perguntei triste para minha mãe enquanto sentava-me à mesa.
     ― Deixa-me adivinhar. ― ela fez cara de pensadora. ― Um cara, que pode virar um lobo, com o nome que começa com “Jay” e termina com “cob”?
     ― Esse mesmo. ― suspirei. ― Já faz três horas que ele saiu, eu nem tava acordada. ― choraminguei.
     ― Calma, filha, ele já vem. ― minha mãe riu.
     ― Calma nada, vou atrás dele. ― disse levantando. ― Já está demorando demais.
     ― Não, não. ― ela negou. ― Primeiro você vai comer.
     Relutantemente finquei o garfo em um ovo e enfiei na boca antes de sair correndo para fora de casa sem querer ouvir os protestos de minha querida mãe.
     É claro que se ela resolvesse ir atrás de mim ela já teria me alcançado, mas por sorte não o fez.
     A toda a velocidade eu fui encurtando a distancia entre eu e meu recente namorado Jacob Black. Entrei na fronteira Quileute e driblei as árvores, indo em direção a casa de Emily Uley.
Encontrei a casa pitoresca e entrei sem bater, como eu faço na maioria das vezes. Encontrei o meu Jake sentado na mesa, emburrado. Porém quando me viu abriu meu sorriso predileto.
     ― Eu falei que ela vinha antes das três horas! ― disse Embry ao Paul. ― Passa a grana. Vinte dólares.
     ― Droga! Eu tava na esperança de o Edward segurar ela mais um pouco lá na mansão. ― praguejou Paul.
     Embry ria abertamente.
     ― Tem algo que queira me contar Jacob Black? ― eu disse severa.
     ― Tem. ― ele disse vindo para o meu lado me abraçar. ― Eu fui feito de refém aqui. Paul e Embry apostaram a hora que você iria vir me buscar. Não consegui sair, Nessie. Perdoa-me? ― ele fez a carinha de cachorrinho que caiu da mudança que me faz derreter.
     ― Tudo bem. ― me rendi. ― Mas vocês dois vão ter o troco. ― eu disse olhando os apostadores risonhos.
     ― Eu disse que era contra. ― Emily disse. ― Só pra constar.
     Revirei meus olhos e puxei Jake para fora. Assim que ficamos a sós ele me encheu de beijos.
     ― Senti sua falta. ― ele disse.
     ― Eu senti mais. ― fiz beicinho e depois sorri no meio de um beijo repentino.
     Jake me soltou e depois sorriu.
     ― Sabe que dia é hoje? ― ele parecia nostálgico! Como uma criança embaixo de uma arvore de natal. Estava tão feliz que eu podia jurar que estava a ponto de sair saltitando.
     ― Não, que dia é? ― perguntei confusa, e extremamente curiosa.
     Não me lembrava de nenhuma data em especial.
     ― Dia 30 de novembro. ― ele abriu um grande sorriso reluzente, eufórico.
     ― E...? ― pedi confusa.
     ― Como assim ‘e...’? ― ele disse parecendo muito chateado, como se tivesse levado um tapa na cara.
     ― Desculpe amor, não consigo pensar em nada. Fala, que dia é hoje?
     ― Esquece. ― ele abaixou a cabeça e começou a andar, me deixando lá, parada e confusa.
     Não sabia o que fazer, estava ficando desesperada. Olhar nos olhos escuros de Jacob e encontrar tanta tristeza não era comum. Por que hoje era um dia importante para ele?
     ― Por favor, Jake, me conta. ― eu implorei projetando o meu lábio inferior para baixo, tirando todas as suas defesas. Era assim que eu conseguia que ele fizesse tudo por mim.
     ― Sabe, isso é um golpe muito baixo. ― ele franziu o cenho e mordeu seu lábio inferior tentando se segurar. ― Não vou dizer. ― ele falou, fechando os olhos para que não visse meu rosto pidão.
     Cheguei bem perto dele e soprei em seu ouvido, o fazendo estremecer. Adorava isso. Envolvi meus braços em sua cintura e comecei a beijar seu pescoço e ele gemeu, bem como eu previa.
     ― Nessie... Não faz isso... Você sabe que isso... Não se faz! ― Ele tentava dizer entre engasgos, mas não tentou me afastar. Eu sabia como o deixar louco.
     ― Vai me contar? ― sussurrei em seu ouvido o sentindo estremecer novamente.
     O abracei e comecei a traçar sua coluna com meus dedos delicados, ocasionalmente usando minhas unhas também. Nossa! Como eu o estava deixando louco.
     Jake cerrou os punhos tentando pateticamente controlar seus sentimentos fluidos.
     ― N... Nessie. ― gaguejou.
     ― Não vai falar? ― provoquei.
     ― Com uma condição. ― ele falou com a voz estremecida.
     ― Condição? Que condição? ― indaguei enquanto me afastava para olhar em seus olhos.
     ― Vai fazer tudo que eu mandar você fazer hoje. ― ele sorriu maroto.
     ― Ah! Já sei que dia é hoje. ― falei repentinamente sorrindo.
     Jacob me olhou confuso e desconfiado.
     ― Sabe?
     ― Sim, hoje é o dia do ‘primeiro de abril fora de época’! ― eu ri de minha piada sem graça. ― Só pode pra você fazer uma condição dessas.
     Ele riu.
     ― Não. ― ele sorriu torto.
     ― Seu aniversário? ― perguntei.
     ― Não. ― ele riu e depois de um tempinho franziu o cenho. ― Espera aí, não sabe o dia do meu aniversário?
     ― Pff! ― bufei tentando disfarçar ― É claro que eu sei! ― desviei meu olhar para o topo das arvores.
     ― Parece que não sabe. ― ele riu.
     ― Sei sim! ― eu disse em um tom de falsa ofensa.
     ― Ah, é? Então responde: Qual o dia do meu aniversário? ― ele levantou uma de suas sobrancelhas sedutoramente.
     ― Hm... ― hesitei. ― é... dia... Ah, eu não preciso te provar nada. ― murmurei em tom ofendido.
     ― Sabia que você mente MUITO mal, parece até que puxou sua mãe. ― ele gargalhou.
     De repente acendeu uma luz na minha cabeça:
     ― Seu aniversário é dia 24 de Janeiro. ― falei levemente me lembrando.
     ― Não, é dia 14 de Janeiro. ― ele sorriu torto.
     ― Cheguei perto. ― eu sorri inocente.
     ― Teve sorte. ― ele acusou. ― Mas ainda não sabe que dia é hoje.
     Bufei frustrada.
     ― Está certo, eu aceito sua condição. ― cruzei meus braços, irritada.
     ― Já disse que você fica linda bravinha? ― ele riu e deu um beijo na minha bochecha me puxando em direção a mansão.

O dia foi longo. Eu tive que fazer lanchinhos para o Jacob, levar refrigerante para o Jacob, massagear as costas de Jacob, paparicar o Jacob e idolatrar o Jacob. Minha família também estava se divertindo vendo meu sofrimento, meu pai principalmente ― leitor de mentes traidor.
     ― Eu ouvi isso, Nessie. ― advertiu meu pai do outro lado da sala de televisão.
     ― Desculpe, pai. ― bufei.
     ― Boa garota. ― ele falou como se parabenizando os feitos de um cão; riu de sua piadinha, assim como toda a família, incluindo Jacob que estava sentado do meu lado com um sorrisinho relaxado no rosto e só dizendo:
     ― Troca, troca, troca... ― enquanto eu tinha que mudar de canal para ele, porque ele estava com preguiça de apertar os botões do controle remoto.
     ― Dia da árvore? ― tentei novamente descobrir que dia era.
     ― Não. ― Falhando tristemente.
     O dia inteiro eu tinha jogado minhas suposições, mas não era nenhuma delas! Isso me frustrava! Que dia era afinal?
     Meu pai gargalhou alto enquanto passava por mim indo para a cozinha.
“depois não gosta que eu o chame de leitor de mentes traidor.” ― bufei mentalmente, mas ele não respondeu.
     ― Dia de St. Patrick? ― tentei.
     ― Também não. ― ele sorriu bobo ― Troca.
     Suspirei profundamente mudando de canal pela centésima vez.
     ― Natal?
     Jake franziu o cenho e me olhou como quem diz: “O quê? Claro que não!”
     ― O que foi? ― dei de ombros, tentando me defender. ― Acabaram as alternativas coerentes.
     Ele riu e pegou minha mão.
     ― Bem, como você não sabe mesmo que dia é hoje, eu vou te contar.
     ― Te mataria se não me contasse. ― ameacei.
     Ele riu e me puxou para fora da casa.
     ― Vamos a um lugar mais privado.
     ― Ela vai arrancar sua cabeça, Jacob, é melhor falarem em um lugar que haja testemunhas. ― riu Alice.
     Jacob pensou um pouco e declarou:
     ― Acho que posso lidar com isso. Além do mais, você não pode ver o meu futuro e o da Nessie. ― ele a lembrou.
     ― Você quem sabe. ― tia Alice deu de ombros. ― Apenas conheço bem as mulheres.
Aquilo estava me deixando curiosa. Que maldito dia era, afinal?
     Jake me pegou em seus braços e correu para uma clareira na floresta. Então me colocou de pé no chão e sentou. Eu o imitei, com uma sobrancelha levantada de dúvida.
     ― Então, quer mesmo saber que dia é hoje? ― ele riu.
     ― Óbvio. ― bufei.
     ― Promete não se zangar? ― ele pediu, a cabeça meio de lado, como um cachorrinho pidão.
     ― Diga de uma vez! ― mandei.
     ― Você não prometeu. ― bufou.
     ― Okay, okay. Eu prometo.
     Ele suspirou e finalmente revelou.
     ― Hoje é o dia: Vingando-se de Renesmee. ― ele sorriu maroto.
     ― O que? ― pedi, não devia ter ouvido direito.
     ― Vingando-se de Renesmee. ― repetiu.
     ― Hoje mais cedo, com Paul e Embry, foi parte de seu plano?
     ― Talvez.
     ― Tia Alice tinha razão ― falei calma e mortal, o sangue juntando em meu rosto com a irritação. ―, vou arrancar sua cabeça.
     ― Calma aí, amor. ― ele levantou as mãos se defendendo. ― Não antes de eu explicar.
     ― Tem cinco minutos. Nada mais. ― ameacei.
     ― Certo. Hm... Digamos que toda vez eu acabo fazendo tudo que você quer: é só você me olhar com aquela carinha e eu desmorono. Então decidi que hoje você iria pagar por ser tão adorável. ― ele deu um sorriso enorme.
     ― Ainda tem quatro minutos e meio. ― falei, mortal.
     ― Oh! Certo, ainda não te convenci. Então eu vou te dizer outra verdade. Hoje não é só o dia de me vingar de você, mas é também o dia em que eu olhei nos seus olhos e me encantei pela milionésima vez essa semana.
     Continuei encarando ele, com a expressão intacta.
     ―Você prometeu não se zangar. ― lembrou-me ele.
     Ainda fiquei encarando.
     ― Já disse que eu te amo? ― ele tentou.
     Revirei meus olhos e não aguentei: tive que deixar escapar um sorrisinho em meus lábios.
     ― Cachorro mau. ― brinquei.
     Ele abriu um sorriso ainda maior que o de antes, não me dando outra alternativa a não ser sorrir com ele. Ele me deu um beijo repentino, de tirar o fôlego.
     ― Você ainda me paga. ― falei no meio do beijo.
     ― Quero ver você tentar. ― ameaçou sedutoramente.
     ― Me aguarde. ― sorri.
     ― Eu já disse que tenho medo de você? ― Jake me olhou nos olhos com a inocência de um cão.
     ― Ainda bem que você é sensato. ― eu ri e o puxei para outro beijo, já planejando como eu me vingaria de sua vingança. ― Estou pensando em passear com você amanhã. ― disse pensadoramente.
     ― Que ótimo, aonde vamos?
     ― Não sei ainda, mas eu vou precisar ir a um pet shop comprar uma coleira extragrande. ― sorri maliciosa.

20 de novembro de 2010

Meias palavras


     Um dia alguém me disse pra desistir de todos os meus sonhos e ser o que os outros querem que eu seja. Ser bem vista na sociedade e ser uma boa garota. Que sonhos nem sempre se tornam reais e ninguém se importa se você tenta realizá-los, ninguém irá estender uma mão para que isso aconteça.
     Um dia alguém me disse que qualquer um pode escrever um livro. Mas aqui estou eu, tentando achar palavras para descrever o que eu sinto, e tristemente falhando. De certa forma eu concordo, qualquer um pode escrever um livro, mas nem todos conseguem fazer uma boa historia.

Game of the spirits - Fanficion de Crepúsculo




Seu nome espiralava em minha cabeça: Jake, Jacob, Jacob Black. Eu o amava secretamente, ele não podia saber, riria de mim! Por que eu tinha que ter me apaixonado logo pelo melhor amigo de minha mãe? Frustrante! Mas não era para menos, não é? Jacob sempre esteve por perto enquanto eu crescia. E agora, com meus sete anos e aparência de 17, meus hormônios gritavam por ele.
     ― Pronta Nessie? ― Jake.
     Iríamos a uma pequena festa de Haloween na casa de Louise, uma amiga minha da escola. Jake se ofereceu para me acompanhar e eu, prontamente, aceitei.
     ― Claro. ― Sorri para meu Quileute favorito.
     Ele me deu seu melhor sorriso de lobo e me guiou para meu novo corola preto.
     Estávamos vestidos como pede o figurino. Eu escolhi ser uma vampira, com presas de plástico patéticas e capa preta. Jacob ironicamente era um lobisomem com garras igualmente patéticas, rimos horrores de nossas fantasias.
     ― Você não faz idéia em como é engraçado te ver nessa fantasia. ― Ele riu.
     ― Por quê? Estou feia? ― preocupei-me.
     Ele deu uma gargalhada alta enquanto saia da garagem.
     ― Como se você pudesse ficar feia de alguma forma.
     Sempre que ele me elogiava desse jeito eu sentia meu coração palpitar e meus dedos formigavam. Por que diabos ele tinha que ser tão incrivelmente encantador e ao mesmo tempo ser o melhor amigo da minha mãe? Nunca encontraria esta resposta.
Para aliviar o meu constrangimento, que aliás já começava a tingir meu rosto de um rosa profundo, tentei fazer uma piada da situação.
     ― Sei. Tome cuidado Jacob Black, eu posso beber seu sangue! ― Fiz gestos teatrais cômicos. ― Literalmente. ― Rimos em uníssono.
     ― Eu bem sei disso. Se eu não tivesse o poder de me curar tão rápido, ainda teria as marcas das suas mordidas de alguns anos atrás. ― Ele recordou distraidamente.
Jake era tão ágil ao volante que nem notei quando estacionamos na frente da mansão de Louise, meus olhos estavam ocupados demais contemplando sua beleza estonteante.
     ― Chegamos. ― Ele anunciou quando viu que eu não sairia do carro.
     ― Certo. ― Disse automaticamente enquanto saltava para fora, Jacob repetiu o movimento e em instantes estava ao meu lado.
     Toquei a capainha duas vezes até a porta ser aberta por Kary, outra amiga.
     ― Ah! Que bom que chegou Nessie! Pensei até que não viria! Louise saiu, mas volta daqui a pouco. Jacob! Como vai? ― Ela sorriu abertamente, não escondendo o contentamento de Jake ter vindo junto. ― Entrem.
     Havia umas nove pessoas na sala, incluindo a elite da escola: Fred, Guigo e Lian, juntamente com suas respectivas namoradas histéricas ― e preciso acrescentar tão patéticas quanto as minhas presas de plástico.
     Todos estavam vestidos com fantasias e dançando com a música psy. A maioria das meninas eram bruxas e a maioria dos meninos eram ou múmias ou vampiros com sangue falso escorrendo pelo canto dos lábios. Bufei de frustração, eu queria colocar sangue real no canto dos meus lábios, mas meu pai me vetou na hora.
     ― Nessie! ― Dilan veio me cumprimentar com um sorriso enorme no rosto. Jacob rosnou baixo demais para ouvidos humanos. ― Eu estava começando a me perguntar se você iria mesmo aparecer. Como vai?
     ― Eu prometi que vinha, não prometi? Estou ótima, obrigada. ― Respondi indiferente.
     ― Quer beber alguma coisa? Louise me deixou no comando das bebidas. Temos cerveja, vodca, 51...
     ― Nada de bebida alcoólica. ― Cortou Jacob.
     ― Ah! Jacob, como vai, cara? ― Dilan pareceu ter notado Jacob apenas naquele momento. Meu Jake não respondeu então Dilan se voltou novamente para mim. ― Então, Ness, o que vai querer? ― Pelo canto do olho ele viu Jacob fazer cara de desgosto e acrescentou: ― Tem guaraná também e Coca.
     Eu ri da situação. Jake podia ser bem intimidador.
     ― Pode ser uma Coca. ― Eu pensei por um instante e decidi abusar um pouco. ― E coloca uns três dedos de vodca, por favor?
     Jacob não gostou nada disso. Assim que Dilan foi buscar minha bebida ele surtou em sussurros.
     ― Você ficou maluca? Esqueceu que seu pai lê mentes e você tem só sete anos!
     ― Idade não é documento. ― Eu respondi rápido demais para pensar duas vezes.
     ― Não, tamanho é que não é documento! ― Ele bufou. Ponto pra ele.
     ― Está certo, mas ainda assim, eu não tenho mais a mente de uma criança, Jake, eu passei dessa fase com quatro anos, lembra? Além do mais, eu sei muito bem como lidar com meu pai e sei que você também tem esse conhecimento.
Ele se rendeu revirando os olhos. Dilan apareceu minutos depois com o que eu pedi. Dei meu primeiro gole, era a primeira vez que eu bebia algo alcoólico.
     ― Está forte! ― Declarei. ― Tem certeza que colocou só três dedos?
     ― Na verdade eu coloquei só dois dedos. ― Dilan riu. ― Imaginei que seria forte, já que você não parece o tipo de pessoa que bebe. Eu, por exemplo, nem sinto o gosto da vodca quando tem só dois dedos, mas pra quem não bebe é outros papos.
     Dei de ombros e fui dar outro gole quando o copo foi tirado da minha mão.
     ― Ei! Jake! ― Protestei.
     ― Forte demais para você. ― Advertiu. ― Você só deveria beber sangue.
     Dilan riu, mas ele não sabia que não era uma piada.
     ― Devolve! ― Bufei.
     ― Nem pensar. ― Ele virou o copo tomando tudo em um só gole, devolveu-me o copo vazio. ― Pronto aqui está.
      Fiz biquinho e fui me sentar no sofá, irritada. Ele me seguiu.
     ― Qual é, vai ficar fazendo esse biquinho mesmo? ― Jake derreteu, nunca agüentava a isso.
     ― Não fala comigo. ― Adverti irritada.
     Ele suspirou e virou os olhos para o teto murmurando qualquer coisa sobre “maldito seja o ‘imprinting’”. O que é imprinting afinal? Perguntaria para ele depois.
     ― Dilan. ― Chamou meu lobo. ― Traz outra coca com apenas um dedo de vodca, dessa vez. Um dedo! ― Advertiu.
     ― Pode deixar. ― Respondeu prontamente.
     ― Feliz agora? ― Perguntou-me Jake, meio contrariado.
     ― Bastante. ― Dei meu melhor sorriso, que o fez derreter mais um pouco. Às vezes eu tinha a impressão de que ele gostava de mim, mas eu não podia ter ilusões.
     ― Teimosa. ― Ele sorriu.
     Dilan trouxe-me o pedido em um minuto. Tentei imitar Jake virando tudo, mas não deu muito certo, fiquei meio tonta. Eu não estou acostumada a esse tipo de bebida, geralmente só bebo sangue de animais. Mesmo assim não posso dizer que foi ruim, por eu não foi, apesar da tontura.
     ― Okay, agora chega. ― Declarou Jake.
     Meneei com a cabeça, concordado, chega de álcool por hoje. Por hoje.
     ― Cheguei gente! ― Anunciou Louise. ― Abaixa a musica um pouquinho Kary? ― Obediente, a música foi abaixada. ― Eu trouxe uma coisa que poucos têm coragem de fazer. ― Coragem era algo que eu tinha de sobra, estava curiosa.
     ― O que é? ― Perguntou Rebeca, expressando a curiosidade geral.
     ― É um tabuleiro e um copo virgem! ― Excitou-se. ― Alguém sabe o que significa?
     ― Jogo do copo! ― Anunciou Guigo. ― Cara, faz o maior tempão que eu não jogo isso!
     ― O que é o jogo do copo? ―Perguntei, morrendo de curiosidade.
     ― Não, você não vai jogar. ― Concluiu Jake.
     ― Por que não? ― Eu não teria aceitado que ele viesse comigo se eu soubesse que ele seria tão chato.
     ― É um jogo em que as pessoas tentam falar com os espíritos Nessie. ― Ele abaixou a voz num sussurro. ― Imagine só, se lobisomens e vampiros existem de verdade quem diria que espíritos não possam existir também?
     ― Uh! ― Excitei-me. ― To louca pra jogar! ― Sorri.
     Jake iria protestar, mas Louise chamou todos da festa para jogar na mesa da sala de jantar. Fui sem me interessar nas reclamações do meu lobinho.
     Em cima de uma mesa redonda de madeira estava o dito tabuleiro, ele tinha várias letras, números e as palavras ‘sim’ e ‘não’.
     ― Estou dizendo Nessie, isso é roubada. ― Avisou Jacob atrás de mim.
     ― Está com medo, Jake? ― Brinquei.
     ― Não! Medo não. Por que eu teria medo? Já vi coisas mais anormais que esse jogo! Não estou com medo!
     ― Para mim, você nega demais. ― Zombei rindo.
     Ele bufou e foi sentar-se à mesa junto com as outras pessoas da festa. Fui logo em seguida.
     ― Todos prontos? ― Perguntou Louise. ― Preciso avisar que esse jogo não é para os fracos.
     ― Ouviu Jake? ― Sussurrei zombeteira. Ele me ignorou.
     A anfitriã da festa colocou um copo de vidro virado para baixo em cima do tabuleiro.
     ― Todos coloquem um dedo sobre o copo. ― instruiu.
     Foi o que todos fizemos. Jake hesitou por um momento, mas eu sabia que ele não iria recuar, se ele o fizesse eu jogaria isso na cara dele pro resto da eternidade. Ele colou seu dedo próximo ao meu, o que me deu um arrepio.
     ― Se há um espírito nesta sala, manifeste-se. ― Anunciou Louise sombriamente.
     Vi que Jake estremeceu um pouco e eu bufei uma risada baixa.
     Para a minha surpresa o copo começou a se mexer, andando para a palavra ‘sim’. Todos nós nos enrijecemos.
     ― Eu avisei. ― Disse Jake baixinho.
     Eu não iria recuar, jamais daria esse gostinho a ele. Além do mais isso deveria ser uma fraude, alguém deveria estar mexendo no copo.
     ― Qual é o seu nome? ― Perguntou Louise ao espírito invocado.
     O copo se moveu formando um nome: James.
     ― Não gostei nada disso. ― sussurrou Jake para mim.
     ― Tem algo que queira nos falar, James? ― Continuou Louise.
‘Sim’, foi a resposta. Logo em seguida formaram-se as palavras: “Diga um oi para Edward por mim meio-vampira”.
     Meu coração disparou. Todos estavam confusos, menos eu e Jake. Será que...?
     ― Você fez isso? ― Sussurrei para Jake, olhando no fundo dos olhos castanhos do Quileute.
     ― Gostaria de dizer que sim. ― A cor havia se esvaído parcialmente de seu rosto e agora também do meu.
     Droga, não era uma fraude, ninguém mais sabia sobre eu ser parte vampira. Além do mais eu havia ouvido falar de James, quase matou minha mãe uns anos antes de eu nascer, mas meu pai o matou.
     ― Deveria estar no inferno James. ― Eu disse sem ligar para as outras pessoas da sala. Lidaria com elas depois, era boa mentindo.
     “E seu pai deveria estar lá comigo, mas nem uma e nem outra coisa aconteceu.”
     Eu estava irritada, odiei esse jogo, deveria ter escutado Jacob.
     ― Vá para o inferno! Victória já está lá te esperando. ― Eu disse num sussurro baixo e mortal, deixando escapar um rosnado baixo pela minha garganta.
     ― Não o atice Nessie. ― Implorou Jake.
      ― Ele está morto Jake, não fará nada. ― Bufei e tirei meu dedo do copo.
     ―Nessie, não! ― Exclamou Louise. ― Não se pode tirar o dedo sem pedir permissão ao espírito! Corra! ― Ela disse rápido tirando o dedo e saindo correndo. Todos fizeram o mesmo.
     ― O copo irá explodir! ― Surtou Lian saindo da casa.
     ― O copo não vai explodir. ― Bufei baixo para Jake. ― James é um fracassado.
     ― Corra Nessie. ― Implorou Jake. ― Não é hora de ser teimosa.
     Pois finquei meus dois pés no chão mostrando que dali não sairia. Se ele estava com tanto medo, então que saísse sozinho!
Jacob não iria me deixar ali, de jeito nenhum. Pegou-me desprevenida e me jogou por cima de seu ombro e começou a correr para fora.
     ― Ei!!! ― Protestei.
     Atrás de mim vi o copo enegrecer ao máximo, como uma massa de fumaça preta espiralando dentro do copo e depois houve uma explosão e estilhaços voaram para todo lado. Gritei quando vi que a massa negra vinha rápida em nossa direção. Todos já estavam do lado de fora e Jake e eu estávamos a alguns passos da porta da frente quando a fumaça estranha atingiu as costas de Jacob e ele parou.
     ― Jake? ― Arfei. ― Você está...?
     Antes que eu terminasse a pergunta, Jacob me jogou para o lado bruscamente e se transformou. Caí em cima da mesinha da sala de televisão e a quebrei ao meio. Doeu.
     ― Jake, pare! ― Implorei enquanto via o enorme lobo marrom pular sobre mim com os dentes à mostra.
     Chutei sua barriga peluda com o máximo de força que consegui e graças a minha parte vampira eu o joguei para o lado. Minha mente trabalhou rápido constatando que ele não iria desistir, estava possuído pelo espírito maligno de James, que era um grande inimigo dos Cullens e queria me matar para se vingar de meu pai, de minha mãe e de minha família vampira que o levou ao fogo do inferno.
     ― Jake, sou eu! Renesmee! Nessie! Pare Jake! Tem que se controlar! ― exclamei histérica.
     O lobo deu uma risada canina esganiçada, mostrando-me seu desprezo por mim. Atacou novamente e dessa vez não consegui esquivar. Não podia machucar o meu Jake, não era ele que estava fazendo aquilo.
     Para o meu desespero, James em forma de Jake, me deu uma mordida na perna tão forte e dolorida que eu gritei o mais alto que meus pulmões puderam suportar. E como um alarme o lobo me soltou e os olhos dele estavam agora reconhecíveis. Ele conseguiu voltar.
     ― Jake! ― Chorei.
     Ele voltou a forma humana, nu porque suas roupas haviam explodido na transformação. Seus olhos estavam lacrimejando e transbordando tristeza.
     ― Nessie! Perdoe-me! ― Ele implorou. ― Eu deveria ter sido mais rápido, eu... ― Ele tentava encontrar soluções para o passado.
     ― Jake, calma, está tudo bem. ― Tentei tranquilizá-lo.
     ― Não, não está tudo bem! Olhe só a sua perna! ― Alarmou-se.
     Olhei para a mordida. Os tendões haviam sido cortados e o osso estava à mostra. E, meu Deus! Como doía!
      ― Eu sinto tanto Nessie! Eu vou chamar Carl- ― Sua frase ficou incompleta e seus olhos cresceram de espanto. Para o meu desespero Jacob vomitou sangue.
     ― Jake! ― Arfei.
     Seu corpo quente caiu inerte em cima de mim. Tentei me mover e olhar em seus olhos para ver se ainda estava vivo, mas minha perna protestou então eu apenas o abracei.
      ― Jake, fala comigo! ― Me desesperei.
    ― Ele não pode Renesmee. ― Disse Lian segurando uma faca de aço ensanguentada.
     ― Lian, por que fez isso?
     ― Quem é Lian? Eu sou James, esqueceu? Pensa que um humano qualquer mataria um lobo? Não. Quando eu possuí esse humano, Lian, ele ficou com a mesma força que eu e acertei o lobo direto no coração. Não é legal? ― Riu esganiçado.
Então eu vi que não haveria mais jeito, eu morreria, assim como Jacob estava morrendo. Abracei seu corpo quase sem vida mais forte. Se ao menos eu tivesse o escutado.
     ― Jake, eu te amo. ― Sussurrei em seu ouvido.
     ― Eu sempre te amei. ― Um Jake conseguiu murmurar com o seu último fôlego de vida.
      Ele me amava também. Ao menos essa felicidade antes da morte iminente.
     Será que eu iria para o inferno por ser meio-vampira? Como seria bom se Alice pudesse ter previsto isso. Porque eu tinha de ter trazido Jake aqui? Agora ele estava morto em meus braços e eu já estava morta por dentro antes mesmo de James me matar. Sem Jake eu morreria de qualquer jeito. Era até melhor que fosse do mesmo jeito trágico que meu amado morreu.
     Lágrimas quentes escorregaram por minha face e eu vi a lâmina ensanguentada se aproximando, fechei meus olhos.

@ErikaFerronatto

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